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Celulares Desligados, Mentes Ativadas: A Hora e a Vez da Biblioteca Escolar Liderar a Aprendizagem

Nos últimos meses, o debate sobre a proibição de celulares na educação básica tomou conta das salas de professores e dos grupos de pais em todo o Brasil. Com a nova legislação entrando em vigor, a discussão deixa de ser teórica e se torna uma realidade prática: o que fazer com o tempo e a atenção dos alunos que antes eram dedicados às telas? Para muitos, a medida representa um alívio, a chance de diminuir a distração e aumentar o foco no conteúdo pedagógico. Para outros, é um desafio, a remoção de uma ferramenta familiar aos nativos digitais. Para nós, profissionais da educação e da biblioteconomia, essa mudança legislativa não deve ser vista como um problema, mas como a mais rara e valiosa das oportunidades: a chance de revitalizar os espaços de convivência e aprendizado da escola, com a biblioteca na vanguarda desse movimento.

O Elo Humano: A Importância Estratégica do Cargo de Bibliotecário

O mais moderno espaço e o mais vasto acervo digital correm o risco de se tornarem subutilizados sem o seu principal agente de mediação: o bibliotecário. A carência de profissionais qualificados é um ponto crítico, e a solução vai além de contratações temporárias. Uma reivindicação histórica de entidades como o Conselho Regional de Biblioteconomia (CRB-6) e o Sind-UTE/MG é a abertura e o provimento do cargo efetivo de Analista de Educação Básica (AEB) – Bibliotecário no quadro de pessoal do estado. A criação de um cargo permanente é estratégica por múltiplos motivos. Primeiramente, ela valoriza o profissional, reconhecendo-o como um agente pedagógico essencial, e não como uma figura acessória. Em segundo lugar, garante a continuidade e o aprofundamento dos projetos de leitura e de letramento informacional, que necessitam de planejamento a longo prazo. Um profissional com vínculo estável tem condições de construir uma política de desenvolvimento de coleções alinhada ao projeto político-pedagógico da escola e de formar leitores críticos ao longo de sua trajetória escolar. Portanto, a efetivação do cargo de bibliotecário é a peça que garante que o investimento em infraestrutura e tecnologia se converta, de fato, em avanço educacional. Desafios e Perspectivas Apesar do otimismo governamental, relatórios e manifestações apontam para a persistência dos desafios. Um relatório do Tribunal de Contas da União (TCU), divulgado pelo CRB-6 em 2023, apontava que mais de 60% das escolas públicas de Minas Gerais não possuíam biblioteca. A Lei Federal nº 14.837, de 2024, que instituiu o Sistema Nacional de Bibliotecas Escolares (SNBE), veio para reforçar a obrigatoriedade desses equipamentos culturais, e o CRB-6 tem atuado ativamente na cobrança pelo cumprimento da legislação. Nesse contexto, embora a publicação de editais para contratação temporária, como os observados em junho de 2025, sinalize um reconhecimento da demanda, ela não resolve a questão estrutural da ausência de uma carreira sólida para esses profissionais na rede, conforme defendido pelas entidades representativas. Em suma, o estado da arte das bibliotecas escolares em Minas Gerais é marcado por uma dualidade: um forte investimento governamental com foco na modernização da infraestrutura e na digitalização dos acervos, convivendo com uma realidade de carência de espaços em muitas escolas e de uma luta pela valorização e efetivação do profissional bibliotecário. O sucesso do ambicioso projeto de revitalização dependerá não apenas da conclusão das reformas, mas também da efetiva universalização do acesso e, crucialmente, da consolidação do bibliotecário como peça-chave no processo de formação de leitores.  

A Tecnologia como Ferramenta para a Democratização do Acesso

A modernização das bibliotecas escolares passa, impreterivelmente, pelo investimento em tecnologias de informatização dos acervos, tanto físicos quanto digitais. Este pilar tecnológico é fundamental não apenas para a organização, mas para garantir o acesso democrático à informação, um direito de todos os cidadãos. A informatização do acervo físico, por meio de sistemas de catalogação, permite que alunos e professores localizem obras rapidamente, saibam o que está disponível e gerenciem empréstimos com eficiência. Isso transforma a biblioteca de um mero depósito de livros em um centro de informação dinâmico e navegável. Ao mesmo tempo, a gestão unificada dos recursos digitais garante que as novas plataformas sejam mais do que repositórios isolados, integrando-se ao ecossistema de aprendizado da escola. Investir em tecnologia é, portanto, investir na remoção de barreiras, assegurando que a riqueza do conhecimento contida nas estantes e nos servidores esteja, de fato e de direito, ao alcance de toda a comunidade escolar.

A Jornada para Democratizar as Bibliotecas Escolares de Minas Gerais

O estado da arte das bibliotecas escolares em Minas Gerais revela um cenário com algumas contradições. Por um lado, o Governo do Estado promove um investimento histórico na modernização e revitalização desses espaços, com o ambicioso “Projeto de Leitura e Escrita”. Por outro, dados de anos anteriores e a voz de profissionais da área apontam para um déficit estrutural e de recursos humanos que ainda persiste, desenhando um panorama complexo e em plena transformação. O carro-chefe da atual política para as bibliotecas escolares mineiras é o “Projeto de Leitura e Escrita”, que prevê um investimento recorde de R$ 212 milhões. Desse montante, R$ 180 milhões são destinados à reforma e revitalização das bibliotecas em mais de 3.400 escolas da rede estadual. A iniciativa também abrange a aquisição de acervos, incluindo o acesso a plataformas de livros digitais como a Britannica Education e a Elefante Letrado, buscando alinhar as bibliotecas às novas tecnologias e aos interesses dos estudantes. O projeto foi lançado com o objetivo de transformar as bibliotecas em ambientes mais acolhedores, modernos e dinâmicos, que incentivem o prazer pela leitura e pela escrita.