O mais moderno espaço e o mais vasto acervo digital correm o risco de se tornarem subutilizados sem o seu principal agente de mediação: o bibliotecário. A carência de profissionais qualificados é um ponto crítico, e a solução vai além de contratações temporárias. Uma reivindicação histórica de entidades como o Conselho Regional de Biblioteconomia (CRB-6) e o Sind-UTE/MG é a abertura e o provimento do cargo efetivo de Analista de Educação Básica (AEB) – Bibliotecário no quadro de pessoal do estado.
A criação de um cargo permanente é estratégica por múltiplos motivos. Primeiramente, ela valoriza o profissional, reconhecendo-o como um agente pedagógico essencial, e não como uma figura acessória. Em segundo lugar, garante a continuidade e o aprofundamento dos projetos de leitura e de letramento informacional, que necessitam de planejamento a longo prazo. Um profissional com vínculo estável tem condições de construir uma política de desenvolvimento de coleções alinhada ao projeto político-pedagógico da escola e de formar leitores críticos ao longo de sua trajetória escolar. Portanto, a efetivação do cargo de bibliotecário é a peça que garante que o investimento em infraestrutura e tecnologia se converta, de fato, em avanço educacional.
Desafios e Perspectivas
Apesar do otimismo governamental, relatórios e manifestações apontam para a persistência dos desafios. Um relatório do Tribunal de Contas da União (TCU), divulgado pelo CRB-6 em 2023, apontava que mais de 60% das escolas públicas de Minas Gerais não possuíam biblioteca. A Lei Federal nº 14.837, de 2024, que instituiu o Sistema Nacional de Bibliotecas Escolares (SNBE), veio para reforçar a obrigatoriedade desses equipamentos culturais, e o CRB-6 tem atuado ativamente na cobrança pelo cumprimento da legislação.
Nesse contexto, embora a publicação de editais para contratação temporária, como os observados em junho de 2025, sinalize um reconhecimento da demanda, ela não resolve a questão estrutural da ausência de uma carreira sólida para esses profissionais na rede, conforme defendido pelas entidades representativas.
Em suma, o estado da arte das bibliotecas escolares em Minas Gerais é marcado por uma dualidade: um forte investimento governamental com foco na modernização da infraestrutura e na digitalização dos acervos, convivendo com uma realidade de carência de espaços em muitas escolas e de uma luta pela valorização e efetivação do profissional bibliotecário. O sucesso do ambicioso projeto de revitalização dependerá não apenas da conclusão das reformas, mas também da efetiva universalização do acesso e, crucialmente, da consolidação do bibliotecário como peça-chave no processo de formação de leitores.